UM CARTÃO POSTAL DE RECIFE

O lixo entope os bueiros, se espalha pelas calçadas, sendo arrastado suavemente pela brisa, enquanto os moradores bem-sucedidos, fazem manutenção de seus vazios, tomando vinhos, fumando cigarros no escuro, ou sentados em frente às suas TVs, contidos em seus silêncios mórbidos, se fartando de ideologias, que jamais serão digeridas.

As prostitutas gritam, brigam, roubam e batem palmas, chamam atenção de um mundo fúnebre, com catacumbas de luxo, moradas de almas que vagam despidas, ignorando a realidade, que suas contas bancárias não são capazes de revelar.

Os carroceiros, moldam o designer do cartão postal, partilham o crack e o álcool ao ar livre, diante de crianças cheias de sonhos, que fazem o dever de casa ao lado da janela da sala.

Deitados no próprio lixo que espalham, eles permanecem ali, se alimentando da baixa vibração, ficam sempre no ponto preferido de seus conselheiros, largados nas calçadas da chique, porém, suja e necrosada, Avenida Conselheiro Aguiar.